domingo, 26 de julho de 2020

Pacote de atividades para trabalhar valores morais e autorregulação infantil

Gente, que ano é esse?! Uma pandemia que deixa nossas crianças brasileiras trancafiadas dentro de casa e cheias de ansiedade e preocupações, com perda da sociabilidade escolar, do aprender a aprender, dentre tantas consequências desagradáveis. A ausência de uma política central, de enfrentamento efetivo e coordenado à COVID19 aqui no Brasil, faz o confinamento social se prolongar indefinidamente e sem prazo para terminar.

Aqui na minha casa também não tem sido nada fácil e minha mocinha, que já fez 8 anos, agora enfrenta uma extrema ansiedade que a deixa angustiada e bem aflita, causando problemas para dormir. Ela desenvolveu algumas atitudes ansiosas tais como entrar em pânico se eu ou o pai precisarmos sair de casa para as compras.  Outra situação caótica aqui em casa é na hora das aulas remotas: ela não suporta esses momentos e passou a ter reações de fechamento emocional nesse momento - ela simplesmente se fecha em si mesma e não interage nem comigo e nem com a tela. Mas, a situação que mais tem me preocupado é que ela tem se tornado escrava de pensamentos negativos. Ela simplesmente não consegue mais ter controle sobre seus pensamentos e por mais que eu tente ajudá-la com exercícios respiratórios, ela repete o tempo todo que "não consigo, não consigo" controlar seus pensamentos negativos.

Impulsionada por essa dificuldade maior, entrei com florais de Saint Germain mas, também acionei minha cachola para criar formas de ajudá-la, ensinando-lhe estratégias de autorregulação emocional. Esta é uma habilidade emocional essencial para controle e gestão dos pensamentos, emoções, ações e sentimentos. Esta capacidade é fundamental para que um ser humano se desenvolva modulando suas reações com o fim de se adaptar a diferentes situações da vida cotidiana. Outro dia eu escrevo um post inteirinho só sobre esse tema para aprofundarmos mais sobre essa competência que é fundamental para o sucesso  pessoal, social e profissional de um ser humano.

O que mais importa neste texto é apresentar a vocês um pacote de atividades que criei para abordar esse assunto delicado com a minha filha, driblando essa resistência dela em conversarmos sobre as estratégias de autorregulação. Criei um pacote de atividades em que abordei assuntos aparentemente dissociados entre si, de uma forma divertida e lúdica, de forma que ela nem se percebeu que estávamos aprendendo estratégias de autorregulação.

Ela adora contos e estórias infantis que tenham finais felizes. Ama muito. Então, selecionei a estorinha do Pinóquio, mas fiz uma síntese bem resumida, suprimindo a parte em que o Pinóquio vira um burro porque, conhecendo-a bem, eu sabia que isso geraria mais estresse sobre ela, mais ansiedade. Mas, antes de irmos para a leitura da estorinha, eu precisava trabalhar pontuação e acentuação porque ela está lendo fluentemente mas, não observa a pontuação e nem a acentuação, apesar das aulas da escola e de algumas aulas que eu mesma já dei aqui pra ela. Então, criei uma estratégia: pedi pra ela ler a mesma frase só que com vírgula e sem vírgula; com acento e sem acento. Foi bem divertido porque usei frases propositais para darmos boas gargalhadas e ela aprender brincando. Um dos exemplos foi:

1- A menina e a égua.

2 - A menina É a égua. :D :D :D

1 - Amo côco.

2 - Amo cocô. :D :D

Assim, demos boas gargalhadas com o uso dos acentos e ela entendeu perfeitamente o quanto é importante ler observando a colocação dos acentos e das vírgulas. Foi muito divertido nessa parte inicial da atividade e quebrou o gelo, preparando um solo fértil para o resto das atividades que viriam ainda.

Depois de lermos juntas a estorinha que sintetizei, fiz algumas perguntas para explorar a interpretação do que foi lido. Como ela é muito boa em interpretação de texto, não me detive muito aí mas, avancei logo para a temática dos pensamentos negativos, que era o meu foco principal nessa atividade. Só que abordei do ponto de vista do Gepeto que tanto pensou em ter um filho que seu desejo se realizou - pensamentos bons geram bons frutos ;).
Como já vinhamos conversando sobre o poder dos nossos pensamentos, ela entendeu rápido que precisamos cuidar, arejar nossos pensamentos porque eles tem muito poder. Então, quem tem muitos pensamentos desagradáveis vai atrair coisas desagradáveis. Ao contrário, quem cultiva pensamentos positivos e agradáveis vai atrair coisas boas e bons sentimentos, consequentemente. Olha... foi excelente!! Ela entendeu tanto que passou a se enxergar na estorinha e saiu do ponto de vista do Gepeto para ancorar em si mesma!! Foi lindo!! Superou minhas expectativas!! <3

Em seguida, realizei junto com ela as atividades propostas para discutirmos as questões morais: Pinóquio havia sido mandado para a escola, pelo seu pai mas, ele tinha vontade de brincar e se divertir e foge da escola para ir ao Circo. Aproveitei essa parte para conversarmos sobre nossas vontades e nossos deveres; nossas escolhas entre fazer o que se deve e fazer o que se quer. Isso rendeu uma boa conversa sobre muitas situações do cotidiano da minha filha e que a ajudou a entender as noções básicas de ética e moral. Por fim, usei um joguinho de pensamentos negativos e pensamentos positivos, onde ela acabou reconhecendo a maioria dos pensamentos negativos que tem dominado a sua vida e pôde aprender como combatê-los, inclusive rindo de alguns deles. Um dos exemplos que usei:

- "Tem um monstro no meu quarto."  Onde substituímos este pensamento por "Que monstro mais envergonhado porque ele nunca aparece na minha frente!!"

E haja risadas e gargalhadas!! A minha filha foi aprendendo, através da brincadeira, que muitos pensamentos são absurdamente irreais e que só servem para nos escravizar e impedir de viver os momentos mais belos da vida!! Ao mesmo tempo, foi aprendendo, brincando, como duvidar desses pensamentos a ponto de torná-los ridículos, ou substituí-los por outros pensamentos positivos.

Todo o pacote de atividades com uma estorinha tão simples, demorou uma hora e meia de muita aprendizagem emocional, cognitiva e diversão. Fiquei muito feliz com o resultado!! O resto do dia dela foi de uma leveza que há muito eu não via nos últimos 3 meses de confinamento.

E se você tiver interesse em desenvolver as mesmas atividades com sua criança, ou com um grupo de crianças, disponibilizei um roteiro e todas as atividades, com gabarito e passo-a-passo bem detalhado. É só clicar neste link e baixar todo o Pacote do Pinóquio, que vem todos os arquivos em PDF, prontinhos para imprimir e usar com a sua criança. Eu só te peço uma coisa em troca: deixa aqui nos comentários como foi a sua experiência com sua criança, pois isso me ajudará a melhorar as atividades. Se você preferir, pode me contar sua experiência, enviando um email usando o endereço que está no arquivo em PDF.

Desejo a vocês, dias melhores e que suas crianças sintam-se amparadas e orientadas por vocês neste difícil período do planeta Terra - a pandemia da Covid19. Abraço fraterno. :-*

segunda-feira, 20 de julho de 2020

O alimento do corpo e o alimento da alma


Uma das cenas da vida de Jesus que mais me marcou foi quando ele viu uma multidão o seguindo para ouvir seus ensinamentos. Pediu aos seus discípulos que trouxessem alimentos para todo aquele povo. Ele assinalava ali o quanto o prover o corpo físico é importante antes de prover o Espírito.

Ainda mais emblemática é a cena da Santa Ceia, na véspera de sua tortura e morte. Jesus prepara seus discípulos para uma das maiores provações de sua vida  provendo alimento para o corpo, em primeiro lugar, e para o Espírito, concomitante.
Nunca dissociados.

Outro ser humano que me marcou muito foi meu sogro: não podia chegar ninguém na sua casa que ele não ofertasse logo alimento. Era capaz de dar o que era dos seus filhos para saciar a fome de quem entrasse em sua casa. Dessa forma, aprendi com ele que a gente ama também, através do alimento.

Penso que uma das maiores e mais importantes funções de uma mãe e um pai é ensinar seus filhos a terem prazer no alimentar-se. E a gente se esforça pra que esse momento seja como Jesus nos ensinou: DIVINO.

Quando nossos filhos aprendem a levar alimentos sozinhos à boca, demora ainda algum tempo para aprenderem a selecionar o alimento do Espírito. As duas funções se constroem sob a orientação e assistência direta dos pais. E é só a partir dos 9 anos que inicia a fase a autonomia, que Piaget considerou como sendo a fase em que a criança estrutura o juízo de valor, onde ela passa a cumprir regras sem necessidade de recompensas mas, porque considera e avalia o que é certo e o que é errado, por ela mesma.
Já se vão 8 anos de estrada, lhe ensinand

Minha menina está entrando na fase de transição entre a heteronomia e a autonomia mas, está com os dois pés dentro desta última, avaliando tudo ao seu redor, nos enchendo de orgulho com a sua habilidade de perceber o que nutre o seu Espírito e o que não traz nenhum benefício para sua alma. E segue, usando também a tecnologia, com muita perspicácia, e com uma sagacidade que nos deixa contentes com todo o investimento de tempo que doamos para ela nos primeiros 7 anos de vida.

Para além de lhe ensinar a escolher o melhor alimento para o corpo, nas horas certas, nunca nos furtamos a acompanhar seus programas infantis e aproveitar cada segundo para lhe ensinar a escolher o alimento para alma. Ensinar valores morais é função tão importante quanto alimentar o corpo e, isso, o Cristo nos mostrou na prática.  Mas, para que o Espírito aprenda, é preciso primeiro que o corpo esteja bem alimentado a fim de que, satisfeitas as necessidades primárias, a alma esteja pronta para receber o alimento moral.

Meu desejo com esse texto é trazer reflexão para o processo de alimentação de uma criança. O mesmo cuidado, assistência e orientação que damos para que a criança aprenda a comer sozinha, deve ser também para que ela aprenda os valores morais que alimentam o Espírito. Só assim, estaremos seguindo os passos paternais do nosso Bom Pastor, Jesus Cristo, dentro das nossas famílias.

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Tecnologias na primeira infância


Pra quem não me conhece, fiz especialização em Informática na Educação, o que me possibilitou trabalhar por 13 anos nessa área, nas redes públicas estadual e municipal. Por isso mesmo, sempre fui uma pesquisadora e, consequentemente, uma defensora do uso de recursos tecnológicos na primeira infância - no meu caso, delimitei a partir dos 6 meses de idade.
A minha filha Cecília iniciou o acesso aos nossos smartphone aos 6 meses de idade por conta dos vídeos e fotos que fazíamos dela. Evoluiu para os vídeos da Galinha Pintadinha e, aos 2 anos e meio inaugurou na pesquisa usando smartphone quando descobriu sozinha o recurso de pesquisa usando a voz (na época, nem eu sabia aonde ficava isso kkkk). 
Minha filha aos 9 meses com meu smartphone 

De lá pra cá, sempre liberamos os os canais YouTube, a Play Store e o Google e acompanhavamos de perto o que ela assistia, baixava ou pesquisava. Da mesma forma fazíamos com a televisão. Nesse acompanhar, íamos ensinando-a a filtrar o que acessava: perguntavamos se aquilo estava lhe fazendo sentir bem ou se evocava pensamentos ou sentimentos ruins; se o que era ensinado ali ela considerava bom, justo ou correto e aproveitávamos o momento para ir ensinando valores morais e éticos... E assim ela foi aprendendo a filtrar o que vê e lê na web.
Com quase 2 anos, com meu tablet

Hoje, às portas de completar 8 anos, Cecília tem predileção pelo YouTube, onde consegue aprender uma infinidade de coisas novas, principalmente no tocante às Artes, área que ela ama, juntamente com a expressão artística do corpo, outra de suas paixões. Ela usa com desenvoltura os smartphone, notebooks e tablet mas, prefere muito mais os dois primeiros. 
Vez ou outra aparece algo ruim que ela sozinha acessa, mas já sabe se desvencilhar daquilo e até vem nos contar quando não estamos assistindo juntas. A autonomia que fomos construindo juntas, vai se solidificando com a confiança que temos uma na outra e entre ela e o pai.

Este canal no YouTube, da Luíza Normey, fui eu que acessei pq ando flertando com a aquarela, mas eu o ouvia sem fones de ouvido. Cecília escutou de longe, largou tudo que estava fazendo e se chegou juntinho, grudadinha e ficamos ali embevecidas com suas pinceladas e trocando impressões e lembranças de nossas próprias experiências com a aquarela.  O vídeo rendeu até uma conversa sobre autoestima porque a Luíza não achava que sua arte final estava perfeita como ela queria e nós duas estávamos absolutamente boquiabertas com a beleza monocromática de um desenho humano. Me vendo pesquisar no YouTube ela vai fortalecendo o que construímos na base: filtro. É é como diz o ditado antigo: o exemplo arrasta.

A partir da minha experiência como educadora, de minhas pesquisas na área da Informatica e Educação e de minha experiência pessoal com minha filha, continuo árdua defensora das tecnologias na primeira infância, sempre destacando que esse uso PRECISA do acompanhamento e orientação do adulto. A web é um mundo democrático de informações boas e ruins. Se não ensinamos as crianças à fazer um filtro, elas crescem sem saber disso e, qualquer que seja a sua idade, vai ser prejudicial à criança. A web é um reflexo da realidade onde, em qualquer esquina, tem gente boa assim como há pessoas ruins. 

Na primeira infância, temos ainda mais chance de consolidar essa habilidade de filtrar as pessoas e as situações mais rapidamente porque as crianças estão mais suscetíveis ao aprender: são umas devoradoras de saber. 🤩
Pra finalizar, ressalto que qualquer tecnologia, inclusive a televisão, pode se tornar viciante, caso não seja orientada e acompanhada por um adulto ou não for oferecido outras formas de entretenimento à criança. Tudo é uma questão de EQUILÍBRIO e ACOMPANHAMENTO do adulto. Num momento desses, em que a pandemia acelerou essa entrada das tecnologias na vida das Crianças, considero importante deixar nosso relato aqui, como forma de ajudar nesse processo novo para a maioria dos pais e mães. 

Esse texto não te obriga a usar as tecnologias com seu filho ou filha. É apenas um relato breve do que e como funcionou e vem funcionando aqui na minha casa.  Há que se considerar que a minha realidade (ser professora, ser especialista em Informática na Educação e a larga experiência com as tecnologias na educação) pesam bastante no resultado positivo mostrado aqui. Portanto, não se sinta obrigada ou obrigado.

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Recurso para falar dos sentimentos



A escada das emoções é um recurso prático que se pode aplicar perfeitamente em casa com nossos filhos. Sempre que a criança tiver algum problema, a escada das emoções pode ser um recurso interessante para falar sobre o que sente e ao mesmo tempo aprender a colocar em prática as técnicas de autorregulação das emoções.
E o mais legal é que pode ser utilizado pela referência educadora da criança, sejam os pais, avós, tios, tias, etc.

Como utilizar:

Aproveite as situações cotidianas para explorar este recurso. Durante o processo de conversa sobre o ocorrido e as emoções que isso provocou na criança, ela deve ir passando de um degrau a outro.
Você que é o mediador, deve ir anotando num pedaço de papel as respostas da criança, à medida que ela vá subindo os degraus que orientam a autorregulagem das suas emoções. Se a sua criança já souber ler e escrever, ela mesma pode escrever nos papéis que você der à ela. Ou ainda, vocês podem usar o painel apenas para se guiarem nas subidas dos degraus, respondendo às perguntas sem precisar escrever as respostas. Foi assim que aconteceu aqui em casa, na primeira oportunidade que surgiu para usarmos esse painel.

À cada resposta, prenda com o pregadorzinho na escada das emoções e analisem juntos o painel que se formou para pensar em outras respostas possíveis para a mesma situação, agora que sua criança está mais calma.

Exemplificando situações práticas de como usar este recurso de autorregulagem das emoções.

Opção A:

Degrau 1: O que passa (a situação do conflito) >> Pedro estragou meu brinquedo (de pé sobre a primeira ficha)

Degrau 2: O que penso >> Não pode ser, eu gosto muito desse brinquedo.

Degrau 3: O que sinto >> Tristeza e raiva

Degrau 4: O que faço >> Empurro e brigo com Pedro

Degrau 5: O resultado >> Ele também me empurra e acabamos com raiva um do outro.

Provavelmente essas seriam as reações e sensações da criança diante do ocorrido. Podemos convidá-la a pensar como teria sido se tudo tivesse se dado de modo diferente. Para isso, peçamos  à criança que retorne à primeira ficha para refletir e obter melhor resultado.

Opção B:

Degrau 1: O que passa >> Pedro quebrou meu brinquedo.

Degrau 2: O que penso >> Pedro estava brincando com meu brinquedo e, sem querer, deixou que ele caísse. Por isso quebrou.

Degrau 3: O que sinto >> Embora esteja triste, posso perdoá-lo.

Degrau 4: O que faço >> Digo a Pedro que, embora gostasse muito do brinquedo, vejo que ele não fez por mal.

Degrau 5: O resultado >> Podemos tentar arrumar o brinquedo ou brincar de outra coisa.

* Ideia de Javi Sobrino, publicada em sua web pessoal

Para construir o painel "Escada das emoções", utilizei materiais que eu já tinha em casa.

1 folha de papel A3 para desenho
Lápis de cores
Giz de cera
Adesivos para enfeitar
Mini pregadores coloridos
Pedaços de velcro
Cola de silicone para colar o velcro nos mini pregadores.

quinta-feira, 13 de junho de 2019

A autorregulação das emoções na primeira infância


A primeira infância, do 0 até os 6 anos, é uma fase intensa de aprendizados através das experiências e dos exemplos. Tudo que for aprendido nesta fase se tornará a base emocional da vida adulta desta criança.

Cientificamente já foi comprovado que que as emoções e os sentimentos dos pais são transferidos para o bebê ainda no útero: tristeza, raiva, amor e culpa que os pais sentem também são sentidos pelo bebê. É a partir dessas experiências uterinas até os sete anos de idade que o indivíduo desenvolverá seus programas emocionais e podem se refletir por toda a vida adulta do indivíduo. Portanto, a decisão de gerar uma criança já inicia um processo de educação emocional sua e consequentemente, da sua criança também.

Existem vários estudos que sugerem que crianças com depressão não empregam de maneira eficiente estratégias de regulação afetiva (Asarnow, Carlson, & Guthrie, 1987; Borges, Manso, Tomé, & Matos, 2006; Burwell & Shirk, 2007; Li, DiGiuseppe, & Froh, 2006; Miller, 2003). A autorregulação das emoções é o termo usado para definir os processos envolvidos na forma de lidar com níveis elevados de emoções positivas e negativas. Portanto, é preciso ensinar às nossas crianças a autorregulação; equilíbrio é a palavra de ordem, na educação emocional.


A criança precisa ser ensinada à regular suas emoções, ou seja, criar estratégias de enfrentamento que procurem diminuir a sensação física desagradável diante da situação estressante, bem como modificar o seu estado emocional.  Numa visão cognitiva baseada na Teoria do Processamento da Informação, Garber, Braafladt e Zeman (citados por Boruchovitch, 2004), propõem um modelo para o desenvolvimento da autorregulação afetiva, em que sugerem algumas etapas para um controle eficiente das emoções.São elas:

1°) Perceber o surgimento da emoção: muitos de nós chega à idade adulta sem conseguir perceber o momento em que surge uma emoção dentro de si; quando nos damos conta, já estamos engolfados em um turbilhão emocional, um tsunami que nos engole e domina nossas ações.
É importante que a criança seja ensinada a olhar pra dentro de si mesma, identificar que tipo de emoção está se sentindo e perceber a sua intensidade. Isso permitirá que avalie a necessidade ou não de controlá-la.
2º) Identificação da causa da emoção:  é importante que a criança procure identificar a causa de sua emoção para avaliar a situação e assim poder definir que tipo de ação é adequada para aquela situação.
3º) Levantar possíveis respostas para cada ação pensada na etapa anterior: isso permitirá que a criança coloque em ação a empatia que é a competência de se colocar no lugar do outro. À cada emoção sentida há uma resposta do indivíduo. Essa resposta pode ser automática, quando se deixa levar pelo calor da emoção, ou pode ser autorregulada, quando segue as etapas descritas até aqui, permitindo que você mesmo esteja no comando de sua vida.
4º) Por fim, avaliar o desempenho das decisões tomadas: após as etapas anteriores, ou seja finalizada a situação que desencadeou a emoção e suas respostas, é preciso parar para refletir o que deu certo e o que não deu certo. Assim, para uma experiência semelhante já saberemos o que funciona e o que não funciona.

Capacidade de auto-regulação das crianças por idade



- Por volta  de 2 anos as crianças começam a entender que outras pessoas têm emoções e pode ser diferente da sua.
- De 2 a 3 anos começa o período de "independência". É uma fase egocêntrica, baseado nas palavras "eu" e "meu", exigindo que o adulto "não ajude". É neste período em que eles começam a responder por boas ou más escolhas (formar julgamentos) e onde a auto-regulação das emoções faz com que a criança comece a julgar a si mesmo.
- Aos 5 anos, esta capacidade de auto-regulação é mais desenvolvida e a complexidade entre as emoções, crenças e expectativas aparece. Ou seja, as crianças começam a relacionar a sua capacidade cognitiva com as emoções.


Dicas para ensinar o auto controle em crianças

  • Nomeie os sentimentos: quem deve ensinar os nomes dos sentimentos para as crianças são os pais ou a sua referência educadora, seja uma avó, um irmão ou um tio. A criança precisa saber nomear o que está sentindo para poder se expressar e colocar em prática as etapas de autorregulação descritas anteriormente. Num próximo post falaremos especificamente sobre os sentimentos básicos e os gerais.
  • Mostre empatia: procure não avaliar ou julgar os sentimentos e as reações de sua criança. Para isso, exercite a empatia, pois ele estará aprendendo com você a ser empático. Procure se colocar no lugar da sua criança para entender o que ela está sentindo e demonstre que se importa com seus sentimentos ouvindo-o falar sobre eles. Busque criar momentos para que esse diálogo surja, podem ser jogos, brincadeiras de esconde-esconde que despertam emoções mais fortes e vívidas, enfim, crie situações em que a criança possa sentir emoções para que você exercite a empatia com ela.
  • Estabeleça limites de comportamento aceitáveis: seguir regras é difícil para nossas crianças, mas a paciência e a persistência nessas regras, nos primeiros anos de vida são fundamentais para que ela aprenda, na prática, as estratégias de autorregulação emocional. Para isso, não espere que ela aprenda a falar para poder estabelecer regras. A criança entende desde os primeiros anos de vida, quando instintamente puxa seus cabelos e você gentilmente a ensina as primeiras regras: passando a mão do bebê sobre seus cabelos como uma carícia e dizendo docemente palavras que a encorajem a continuar com ações carinhosas.
  • Ensine-o a resolver o problema: é uma tendência dos pais quererem resolver tudo para seus filhos. No entanto, isso é muito prejudicial pois, você o impede de vivenciar situações maravilhosas para exercitar os passos da autorregulação emocional. Leve-o para parques públicos, onde terá contato com o maior número de crianças possível, onde os conflitos surgirão e lhe darão excelentes oportunidades de colocar em prática quase todos os passos da autorregulação emocional.
  • Dê o exemplo; mantenha-se calma: você já sabe, o exemplo arrasta muito mais do que as palavras.
  • Ensine-o a reconhecer os sinais: Peça-lhe que identifique suas emoções à partir dos sinais fisiológicos do corpo - suores, tremor, calor nas faces, frio na barriga, estômago encolhido, arrepio dos pelos do corpo, etc. Tudo isso sua criança sente mas, quem vai ensinar-lhe a dar nomes e entender o que se passa é você, a referência educadora dela.
  • Ensine-o a se acalmar: existem inúmeras estratégias de relaxamento no google. Mas, sem dúvida, a básica é o exercício respiratório. Nas primeiras birras, abraçar o seu filho e falar palavras doces de conforto ("estou aqui", "respire", eu estou com você", "eu lhe entendo", "eu amo você") já são estratégias de relaxamento desde a mais tenra idade.
  • Ensine-o a liberar a sua raiva de forma positiva: ensine seu filho que sentir raiva é normal à qualquer ser humano. O que não é normal é dar vazão à essa raiva de forma destrutiva. Um jogo tão simples como soprar bolhas pode estimular o autocontrole na criança, ajuda a regular as respostas impulsivas da criança através da sua respiração, produzindo um efeito muito semelhante ao obtido com a técnica de respiração diafragmática. Sem contar que ao soprar as bolhas ao vento, sua raiva se dissipa junto e ele voltará à sorrir, descontraidamente.
  • Peça ajuda quando ficar nervosa: uma coisa que aprendi com minha filha foi pedir a sua ajuda para que eu mesma pudesse colocar em prática os passos da autorregulação. Como eu mesma me deixava levar pelos impulsos das emoções, eu pedia que ela me ajudasse me avisando que eu estava ficando muito nervosa, caso eu mesma não percebesse. Isso deu muito certo porque desde pequenina ela entendeu na prática que pais e mães não são super Humanos e que também precisam de estratégias de autorregulação. Eram oportunidades excelentes de colocar em prática a empatia, os exercícios respiratórios, os jogos de relaxamento, e tudo mais que eu criava para que ela pudesse se autorregular. 

    Queremos que as crianças tenham os seus sentimentos, mas que não sejam dominadas por elas. As crianças que são capazes de regular suas emoções prestam mais atenção e conseguem um melhor desempenho escolar. Elas são mais capazes de resolver os conflitos com seus pares e mostram níveis mais baixos de estresse fisiológico. Sendo também mais comportados, e mais solidária para com os outros.

    Num próximo post colocaremos alguns jogos e brincadeiras que ajudarão você e sua criança à colocar em prática e desenvolver as estratégias de autorregulação explicadas hoje por aqui. Se inscreva no blogue para ser avisado sobre os novos post, no seu email, assim você não vai perder nenhuma dica preciosa. Até a próxima!!

    REFERÊNCIAS

    Asarnow, J. R., Carlson, G. A., & Guthrie, D. (1987). Coping strategies, self-perceptions, hopelessness, and perceived family environment in depressed and suicidal children. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 55, 361-366.

    Borges, A. I., Manso, D. S., Tomé, G., & Matos, M. G. (2006). Depressão e coping em crianças e adolescentes portugueses. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 2(2),73-84.

    Burwell, R. A., & Shirk, S.R. (2007). Subtypes of rumination in adolescence: associations between brooding, reflection, depressive symptoms, and coping. Journal Clinical Child and Adolescent Psychololy,36(1), 56-65

    Li, C. E., DiGiuseppe, R., & Froh, J. (2006). The role of sex, gender and coping in adolescent depression. Adolescence, 41(163), 409-15.

    Miller, J. (2003). O livro de referência para a depressão infantil (M. M. Tera, Trad.). São Paulo: M. Books

    Boruchovitch, E. (2004). A Auto-regulação da aprendizagem e a escolarização inicial. In E. Boruchovitch & J. A. Bzuneck (Orgs.), Aprendizagem: processos psicológicos e o contexto social na escola (pp. 55-88). Petrópolis: Vozes.      

    Pacote de atividades para trabalhar valores morais e autorregulação infantil

    Gente, que ano é esse?! Uma pandemia que deixa nossas crianças brasileiras trancafiadas dentro de casa e cheias de ansiedade e preocupações,...