A primeira infância, do 0 até os 6 anos, é uma fase intensa de aprendizados através das experiências e dos exemplos. Tudo que for aprendido nesta fase se tornará a base emocional da vida adulta desta criança.
Cientificamente já foi comprovado que que as emoções e os sentimentos dos pais são transferidos para o bebê ainda no útero: tristeza, raiva, amor e culpa que os pais sentem também são sentidos pelo bebê. É a partir dessas experiências uterinas até os sete anos de idade que o indivíduo desenvolverá seus programas emocionais e podem se refletir por toda a vida adulta do indivíduo. Portanto, a decisão de gerar uma criança já inicia um processo de educação emocional sua e consequentemente, da sua criança também.
Existem vários estudos que sugerem que crianças com depressão não empregam de maneira eficiente estratégias de regulação afetiva (Asarnow, Carlson, & Guthrie, 1987; Borges, Manso, Tomé, & Matos, 2006; Burwell & Shirk, 2007; Li, DiGiuseppe, & Froh, 2006; Miller, 2003). A autorregulação das emoções é o termo usado para definir os processos envolvidos na forma de lidar com níveis elevados de emoções positivas e negativas. Portanto, é preciso ensinar às nossas crianças a autorregulação; equilíbrio é a palavra de ordem, na educação emocional.
A criança precisa ser ensinada à regular suas emoções, ou seja, criar estratégias de enfrentamento que procurem diminuir a sensação física desagradável diante da situação estressante, bem como modificar o seu estado emocional. Numa visão cognitiva baseada na Teoria do Processamento da Informação, Garber, Braafladt e Zeman (citados por Boruchovitch, 2004), propõem um modelo para o desenvolvimento da autorregulação afetiva, em que sugerem algumas etapas para um controle eficiente das emoções.São elas:
1°) Perceber o surgimento da emoção: muitos de nós chega à idade adulta sem conseguir perceber o momento em que surge uma emoção dentro de si; quando nos damos conta, já estamos engolfados em um turbilhão emocional, um tsunami que nos engole e domina nossas ações.
É importante que a criança seja ensinada a olhar pra dentro de si mesma, identificar que tipo de emoção está se sentindo e perceber a sua intensidade. Isso permitirá que avalie a necessidade ou não de controlá-la.
2º) Identificação da causa da emoção: é importante que a criança procure identificar a causa de sua emoção para avaliar a situação e assim poder definir que tipo de ação é adequada para aquela situação.
3º) Levantar possíveis respostas para cada ação pensada na etapa anterior: isso permitirá que a criança coloque em ação a empatia que é a competência de se colocar no lugar do outro. À cada emoção sentida há uma resposta do indivíduo. Essa resposta pode ser automática, quando se deixa levar pelo calor da emoção, ou pode ser autorregulada, quando segue as etapas descritas até aqui, permitindo que você mesmo esteja no comando de sua vida.
4º) Por fim, avaliar o desempenho das decisões tomadas: após as etapas anteriores, ou seja finalizada a situação que desencadeou a emoção e suas respostas, é preciso parar para refletir o que deu certo e o que não deu certo. Assim, para uma experiência semelhante já saberemos o que funciona e o que não funciona.
Capacidade de auto-regulação das crianças por idade
- Por volta de 2 anos as crianças começam a entender que outras pessoas têm emoções e pode ser diferente da sua.
- De 2 a 3 anos começa o período de "independência". É uma fase egocêntrica, baseado nas palavras "eu" e "meu", exigindo que o adulto "não ajude". É neste período em que eles começam a responder por boas ou más escolhas (formar julgamentos) e onde a auto-regulação das emoções faz com que a criança comece a julgar a si mesmo.
- Aos 5 anos, esta capacidade de auto-regulação é mais desenvolvida e a complexidade entre as emoções, crenças e expectativas aparece. Ou seja, as crianças começam a relacionar a sua capacidade cognitiva com as emoções.
Dicas para ensinar o auto controle em crianças
- Nomeie os sentimentos: quem deve ensinar os nomes
dos sentimentos para as crianças são os pais ou a sua referência
educadora, seja uma avó, um irmão ou um tio. A criança precisa saber
nomear o que está sentindo para poder se expressar e colocar em prática as
etapas de autorregulação descritas anteriormente. Num próximo post
falaremos especificamente sobre os sentimentos básicos e os gerais.
- Mostre empatia: procure não avaliar ou
julgar os sentimentos e as reações de sua criança. Para isso, exercite a
empatia, pois ele estará aprendendo com você a ser empático. Procure se
colocar no lugar da sua criança para entender o que ela está sentindo e
demonstre que se importa com seus sentimentos ouvindo-o falar sobre eles.
Busque criar momentos para que esse diálogo surja, podem ser jogos,
brincadeiras de esconde-esconde que despertam emoções mais fortes e
vívidas, enfim, crie situações em que a criança possa sentir emoções para
que você exercite a empatia com ela.
- Estabeleça limites de
comportamento aceitáveis: seguir regras é difícil para nossas crianças,
mas a paciência e a persistência nessas regras, nos primeiros anos de vida
são fundamentais para que ela aprenda, na prática, as estratégias de
autorregulação emocional. Para isso, não espere que ela aprenda a falar
para poder estabelecer regras. A criança entende desde os primeiros anos
de vida, quando instintamente puxa seus cabelos e você gentilmente a
ensina as primeiras regras: passando a mão do bebê sobre seus cabelos como
uma carícia e dizendo docemente palavras que a encorajem a continuar com
ações carinhosas.
- Ensine-o a resolver o
problema: é
uma tendência dos pais quererem resolver tudo para seus filhos. No entanto,
isso é muito prejudicial pois, você o impede de vivenciar situações
maravilhosas para exercitar os passos da autorregulação emocional. Leve-o
para parques públicos, onde terá contato com o maior número de crianças
possível, onde os conflitos surgirão e lhe darão excelentes oportunidades
de colocar em prática quase todos os passos da autorregulação emocional.
- Dê o exemplo; mantenha-se
calma:
você já sabe, o exemplo arrasta muito mais do que as palavras.
- Ensine-o a reconhecer os
sinais:
Peça-lhe que identifique suas emoções à partir dos sinais fisiológicos do
corpo - suores, tremor, calor nas faces, frio na barriga, estômago
encolhido, arrepio dos pelos do corpo, etc. Tudo isso sua criança sente
mas, quem vai ensinar-lhe a dar nomes e entender o que se passa é você, a
referência educadora dela.
- Ensine-o a se acalmar: existem inúmeras
estratégias de relaxamento no google. Mas, sem dúvida, a básica é o
exercício respiratório. Nas primeiras birras, abraçar o seu filho e falar
palavras doces de conforto ("estou aqui", "respire",
eu estou com você", "eu lhe entendo", "eu amo
você") já são estratégias de relaxamento desde a mais tenra idade.
- Ensine-o a liberar a sua
raiva de forma positiva: ensine seu filho que sentir raiva é normal à
qualquer ser humano. O que não é normal é dar vazão à essa raiva de forma
destrutiva. Um jogo tão simples como soprar bolhas pode estimular o
autocontrole na criança, ajuda a regular as respostas impulsivas da
criança através da sua respiração, produzindo um efeito muito semelhante ao
obtido com a técnica de respiração diafragmática. Sem contar que ao
soprar as bolhas ao vento, sua raiva se dissipa junto e ele voltará à
sorrir, descontraidamente.
- Peça ajuda quando ficar
nervosa: uma
coisa que aprendi com minha filha foi pedir a sua ajuda para que eu mesma
pudesse colocar em prática os passos da autorregulação. Como eu mesma me
deixava levar pelos impulsos das emoções, eu pedia que ela me ajudasse me
avisando que eu estava ficando muito nervosa, caso eu mesma não
percebesse. Isso deu muito certo porque desde pequenina ela entendeu na
prática que pais e mães não são super Humanos e que também precisam de
estratégias de autorregulação. Eram oportunidades excelentes de colocar em
prática a empatia, os exercícios respiratórios, os jogos de relaxamento, e
tudo mais que eu criava para que ela pudesse se autorregular.
Num próximo post colocaremos alguns jogos e brincadeiras que ajudarão você e sua criança à colocar em prática e desenvolver as estratégias de autorregulação explicadas hoje por aqui. Se inscreva no blogue para ser avisado sobre os novos post, no seu email, assim você não vai perder nenhuma dica preciosa. Até a próxima!!
REFERÊNCIAS
Asarnow, J. R., Carlson, G. A., & Guthrie, D. (1987). Coping strategies, self-perceptions, hopelessness, and perceived family environment in depressed and suicidal children. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 55, 361-366.
Borges, A. I., Manso, D. S., Tomé, G., & Matos, M. G. (2006). Depressão e coping em crianças e adolescentes portugueses. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 2(2),73-84.
Burwell, R. A., & Shirk, S.R. (2007). Subtypes of rumination in adolescence: associations between brooding, reflection, depressive symptoms, and coping. Journal Clinical Child and Adolescent Psychololy,36(1), 56-65
Li, C. E., DiGiuseppe, R., & Froh, J. (2006). The role of sex, gender and coping in adolescent depression. Adolescence, 41(163), 409-15.
Miller, J. (2003). O livro de referência para a depressão infantil (M. M. Tera, Trad.). São Paulo: M. Books
Boruchovitch, E. (2004). A Auto-regulação da aprendizagem e a escolarização inicial. In E. Boruchovitch & J. A. Bzuneck (Orgs.), Aprendizagem: processos psicológicos e o contexto social na escola (pp. 55-88). Petrópolis: Vozes.
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