segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Evolução no processo de leitura e escrita

"As crianças não são meros sujeitos aprendizes, mas são também sujeitos que sabem. Em outras palavras, as crianças adquirem novos comportamentos durante seu desenvolvimento, porém,  mais importante, é que elas adquirem um novo conhecimento. (...)
Para adquirir conhecimento sobre o sistema de escrita, as crianças agem da mesma maneira que em outras áreas do saber: tentam assimilar a informação do meio. (...)
A necessidade da incorporação de novas informações é uma das razões da alteração de um determinado esquema."
Fonte: Como as crianças constroem a leitura e a escrita. Yetta Goodman  (org.). Editora Artes Médicas.

Em agosto, quando iniciei o trabalho de acompanhamento do processo de alfabetização da minha filha de 6 anos, apliquei alguns testes diagnósticos para ter a certeza de em que nível do processo de leitura e escrita ela estava. Busquei nos estudos sobre a psicogênese da leitura e escrita, de Emílio Ferreiro e Ana Teberosky,  o parâmetro para a diagnose. Percebi  que a minha filha estava numa transição entre o primeiro e o segundo  nível do processo, mas, o pior de tudo era que havia estacionado, rejeitando seguir adiante.

Deixei neste blog os primeiros instrumentos que criei para diversificar as informações do meio em que ela vive pra que ela pudesse voltar para o processo de confrontação de suas hipóteses e acomodação de novos esquemas.

Hoje, seguramente, ela está na transição do segundo para o terceiro nível do processo de leitura e escrita. Como  mostram as imagens do trabalho que fiz com ela hoje, com a ajuda dos envelopes de palavras, ela já percebeu a fonetização da representação da escrita.

Na primeira imagem, ela precisava escrever a palavra "tesoura" com as sílabas,  primeiramente. Ela montou "terasou". Perguntei-lhe se estava correto e ela afirmou que sim. Pedi então que lesse a palavra montada, usando os dedos pra apontar cada sílaba pronunciada. Foi quando ela parou na segunda sílaba, claramente num conflito, e me olhou sorrindo dizendo "eu me enganei, ahahaha". Fiquei muito feliz porque ela não percebe mais "o erro" e sim um engano, uma confusão!  E em segundo lugar porque ela refez sua hipótese trocando a colocação das sílabas.  Em seguida, montar a palavra usando as letras foi mais fácil.  Depois, pedi-lhe que me dissesse quantas sílabas e quantas letras formam a palavra "tesoura". Incentivei-a a dissecar ainda mais a palavra, pedindo-lhe que me dissesse quantas consoantes e quantas vogais foram necessárias para escrever a palavra. 

Ainda como forma de acrescentar informações neste processo,  usei o tapete de alfabeto que existe no quarto dela, um presente da tia dela. Propus uma brincadeira: ela deveria pular nas letras que eu mencionasse, e em seguida falar uma palavra que iniciasse com aquela letra. Foi um jogo divertidíssimo porque ela confrontava suas hipóteses fonêmicas e ria bastante delas! Fazemos isso, desde meados de agosto e hoje todas as suas hipóteses fonêmicas foram confirmadas!

Em apenas 2 meses de variadas informações do meio doméstico, minha filha reconstruiu a noção de "erro" e voltou a evoluir no seu processo de aquisição da leitura e escrita. Fico feliz de constatar que ela já adentra no terceiro nível, começando a fazer as primeiras análises sonoras dos fonemas das palavras que escreve!!

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Intervenção materna no processo de leitura e escrita

Gente, preciso compartilhar com vocês o quanto estou emocionada e com o coração muito mais tranquilo depois de ler o livro "Construindo a leitura e a escrita - reflexões sobre uma prática alternativa em alfabetização", de autoria da Maria Alice S. Souza e Silva.

Iniciei este blog com o coração inquieto porque comecei a perceber o desinteresse e a estagnação da minha filha no processo da alfabetização. Então,  resolvi intervir no processo. Só que nunca fui alfabetizadora. Embora eu seja professora de geografia, as competências e habilidades para alfabetizar não são o objetivo da licenciatura em geografia. Mas, eu me viro diante do crescente desânimo da minha filha de 6 anos e um mês frente ao processo de aquisição da escrita e leitura. Foi quando decidi estudar sobre o assunto e criei uma micro-biblioteca com livros de Paulo Freire,  Emília Ferreiro, Ana Teberoski,  Magda Soares e por aí vai.

Somente à partir dessa fundamentação teórica toda foi que passei a entender como minha filha vinha aprendendo:
# como ela percebia os sons
# como ela entendia os conceitos de letra, palavra e silaba
# de que forma ela superava o desafio de escrever ou ler uma carta pra sua tia que mora em São Paulo
 
Questões que este livro me fez levantar e procurar ajudar a Cecília à superar alguns de seus desafios impostos pela escola, mas que ela não avançava porque para ela não fazia sentido as palavras iniciais trabalhadas pela escola: os encontros vocálicos "ai", "ei", ui" etc. Neste livro, que aborda a metodologia de Emília Ferreiro para subsidiar o processo de alfabetização,  conseguimos entender que para nós são palavras muito fáceis - os encontros vocálicos - mas, para as hipóteses da criança, para uma palavra ser lida ela precisa ter no mínimo três letras!! Diagnostiquei também, que minha filha não conseguia entender que a vogal introduzida na sílaba ,  modifica o som da consoante. Quando passou a ser exigida pela escola a formar palavras com as famílias silábicas aprendidas de forma memorizada, não fazia sentido algum pra ela e até a fazia ficar confusa e envergonhada com seus muitos "erros" ao tentar realizar o que era solicitado. Isso a fez estacionar no seu processo evolutivo.

Estas foram algumas das muitas questões que meu olhar foi se educando a buscar nas atividades desafiadoras-lúdicas que fui criando. E foi nesse contexto que foi construído o momento ímpar que aconteceu hj!

 Utilizei o alfabeto móvel para fazer um diagnóstico do nível de alfabetização em que a minha filha se encontra. Para isso, deixei as letras do alfabeto móvel dispostas conforme a figura acima e solicitei que ela explorasse "o brinquedo". Propositadamente não utilizei ainda as palavras letras porque minha hipótese é de que minha filha não sabe o que é letra,  som (fonema) e nem distinguir um do outro. Assim, ela foi logo embaralhando as imagens dos símbolos e identificando cada uma que ela pegava "esta é o dê", esta aqui é o efe" e por aí foi, uma por uma, embaralhadas, e acertou todas elas. Estava visivelmente satisfeita com seu próprio desempenho.




Em seguida, propus um jogo. Eu iria falar uma palavra (usei esse termo mesmo) e ela iria tentar montar a palavra com o alfabeto. Reforcei que ela não precisava se preocupar com o erro pois, o que eu observava durante as lições pra casa que ela trazia da escola é que haviam dado uma ênfase muito negativa para o erro, o que lhe tolhia a espontaneidade de procurar recursos interiores que a ajudassem a resolver os conflitos que encontrava no processo de sintetizar as sílabas  (etapa em que a escola se encontra agora e assim exige da turminha, agora que já ensinou todas as famílias silábicas). 

Solicitei então que tentasse formar a palavra "BALI" que é o apelido íntimo do pai aqui em casa. Ela usou as letras como na imagem abaixo, para representar a palavra solicitada.


Esse exemplo aí de cima se repetiu em mais 4 palavras que eu solicitei.  De acordo com Emília Ferreiro, citada no livro que informei no início deste texto,  a minha filha encontra-se no nível silábico de evolução da escrita, que se caracteriza pela correspondência entre a representação escrita das palavras e as suas propriedades sonoras. Foi a descoberta que ela fez hoje, de que a quantidade de letras com que ela ia escrever uma palavra pode ter correspondência com a quantidade de partes que se reconhece na emissão dos sons!! Ela utilizou cada letra para representar uma silaba ouvida, em todas as palavras que eu solicitei que escrevesse.

Pra mim foi um grande salto que ela deu na evolução da sua escrita pois, quando resolvi intervir no processo de alfabetização dela, minha filha estava estacionada no nível pré-silábico, onde eu não percebia nas suas representações da escrita a preocupação com as propriedades sonoras das palavras ouvidas.

Então,  fechei este dia com chave de ouro e muito feliz de, além de ver a sua evolução,  perceber nela a própria satisfação com seus acertos.

Estamos felizes!! Até a próxima postagem, onde vou descrever algumas as atividades que utilizei pra que ela pudesse atentar para o valor sonoro das sílabas.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Plantando o que cultivou

Oi, pessoal! Estive ausente das postagens porque estou diagnosticada com fibromialgia e tenho algumas fases em que entro em crises agudas. Mas, agora já estou melhor pra poder atualizar minhas descobertas no processo de aprendizagem da minha pequena.

Lembram que utilizei experiências científicas pra estimular o prazer da escrita com ela? Está descrito na postageminha anterior a esta. É só buscá-la aqui mesmo no blogue.
Então, ao longo dos dias estimulei minha filha a ir observando o que acontecia com o feijão e anotando num boquinho.

E finalmente,  hoje foi pra dia em que decidimos juntas que eles já podiam ir pra terra. Estabeleceu-se o seguinte diálogo, logo pela manhã,  após observar os feijões:
Filha: mãe,  eles já tem folhas agora!! Vem ver!!! (Empolgação e ansiedade, nível Hard 😃😃)

Eu: Que lindos!! E agora, o que podemos aprender disso? Por que será que os feijões que estão no saco e que colocamos na panela, não cresceram como estes?

Filha: porque eles estão no saco! Eles precisam de água e algodão pra poder crescer, oras! (Kkk..., a conclusão sobre eles precisarem do algodão é muito lógica para os 6 anos dela, sim.)

Eu: Você tem razão, filha. (Precisamos incentivá-los e apoiá-los nas conclusões que são óbvias pra idade deles). Muito bem!! E agora? Eles ainda podem continuar aí?

Filha: acho que sim, mãe.

Eu: lembra qdo vc era bebê? Mamãe só podia dar o leite pra vc. Eu não dava arroz e feijão ou carne. Porque vc era muito novinha e ainda não estava com o estômago pronto pra receber comida pesada.

Filha, já me cortando: mãe!! Eles precisam ir pra terra agora, não é? OndePor que eles precisam mais do que só a água,  agora.

Eu:  Isso mesmo!! Parabéns!! Vamos plantar na terra?

E assim, foi a menina super empolgada, aprender a cuidar da terra, afofar,  tirar o mato, fazer a leira, pra poder plantar seus feijões.
Compartilho as fotos aqui com vcs!





Quando formos colher, eu aviso pra vcs! Bjs!

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Experiências científicas em prol da escrita e leitura

Hoje eu tive a idéia de utilizar as experimentações científicas tradicionais como ferramenta de alfabetização e letramento.

Escolhi a tradicional semente de feijão no algodão molhado. Para isso, expliquei-lhe que iríamos realizar uma experiência científica e que precisaríamos observar todos os dias e anotar o que iríamos observar.

Então, perguntei-lhe se ela gostaria de saber como nasce um feijão, ao que ela abriu seu característico bocão de empolgação que eu já sabia que significava um sonoro SIM! 😃😃

Assim, disse-lhe que precisávamos fazer a primeira anotação: "dia 1 - 3/9/2018", que eu fui ditando e ela escrevendo.
Em seguida, colocamos o algodão molhado dentro de um pote de vidro (escolhido à propósito para podermos ver o nascimento dia-a-dia) e introduzimos 4 sementes de feijão nas laterais do algodão. 


Pra finalizar, colocamos uma semente do feijão no copinho descartável de café,  pra podermos acompanhar e registrar o que acontece tanto no vídeo quanto no copo  (que não é tão visível enquanto o feijão não brotar). Assim ela terá as duas experiências. 

Nos dias seguintes, ela terá que utilizar da escrita e do desenho para registrar as observações. Ao realizar esse processo diário,  ela vai percebendo a função social da escrita! De forma prazerosa e divertida! De quebra, se torna uma mini-cientista!

Resultados de uma intervenção

Quando percebi que o processo de alfabetização formal da minha filha estava baseado na memorização pura e simples das famílias silábicas,  decidi intervir.

Pesquisei em Emília Ferreiro, Magda Soares, Paulo Freire e continuo investigando, estudando o método fônico  (farei um post só sobre ele, outro dia). Enquanto a pesquisa pelo melhor método está em andamento, fui criando algumas ferramentas que compartilhei nos post anteriores à este.

Qual não foi a minha grata surpresa, quando hoje, minha filha me surpreendeu com uma atividade intensa entre eu e a mesa de estudo: corria cá comigo e perguntava quantas letras tinha a palavra "carne" e voltava correndo. Demorava por lá e voltava depois, perguntando quantas letras tinha a palavra "patinete". A cada pergunta eu ficava empolgada e de decompunha sonoramente as sílabas enquanto mostrava a quantidade de dedos que formavam as letras da palavra solicitada. Não aguentei mais de curiosidade e fui até à mesa pra saber o que ela estava elaborando. Era a confecção espontânea de seu próprio livro de adivinhações!

Seguindo o exemplo de quando fizemos juntas um livro de adivinhações artesanal (que eu postei aqui no blog), ela teve a iniciativa própria de fazer o seu. O fato dela correr pra me perguntar com quantas letras formava a palavra que ela queria escrever foi um enorme avanço desde o dia em que iniciei a intervenção.  Antes, Cecília apenas decorava famílias silábicas sem ter a consciência fonêmica - capacidade de descobrir que as palavras são formadas por fonemas. Agora, tão mais cedo do que eu esperava, ela começa a dar os primeiros passos para superar um dos desafios do processo de escrever e ler. Fiquei muito feliz com a sua iniciativa e com os primeiros resultados da intervenção que estou fazendo em casa mesmo!! As crianças querem aprender. Só não querem ser tratadas como robô. Isso as entedia. É preciso desafiá-las, envolvê-las no processo, confrontar suas hipóteses e ajudá-las a superar o conflito cognitivo pra acontecer a produção do conhecimento.



Livro de adivinhações artesanal

Domingo preguiçoso também é dia de brincar de fazer livro artesanal. Com esta proposta, Cecília ajudou a criar mais uma ferramenta pedagógica pra ajudá-la na aquisição da leitura e escrita durante a semana que inicia.

Processo de feitura:

Materiais : cola pra artesanato (veja a imagem); tesoura sem ponta; folhas de papel A4, coloridas; 2 folhas de papel pra desenho jandainha  (mais duras, pra capa e verso da capa)

A) selecionei algumas adivinhações na Internet mesmo e as copiei em folhas coloridas de papel A4;
B) Pedi à ela que desenhasse as respostas enquanto eu ia copiando as adivinhas;
C) utilizando o princípio de contagem das letras, colei uma tira de papel sobre cada uma das palavras, de forma que a criança possa levantar letra por letra e ter a possibilidade de confrontar sua hipótese de escrita, quando responder a pergunta;
D) cortei uma tira de pano para unir todas as folhas escritas com as adivinhações;
E) colei a contra - capa, capa e verso da capa, unindo todo o conjunto.




Cecília adorou participar do processo todo mas, vamos aguardar a cola ficar firme pra poder manusear o livro na semana que vem. Já tem motivação de sobra pra participar da leitura, com tudo isso! 🎉🎉🎉❤

Pacote de atividades para trabalhar valores morais e autorregulação infantil

Gente, que ano é esse?! Uma pandemia que deixa nossas crianças brasileiras trancafiadas dentro de casa e cheias de ansiedade e preocupações,...