quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Intervenção materna no processo de leitura e escrita

Gente, preciso compartilhar com vocês o quanto estou emocionada e com o coração muito mais tranquilo depois de ler o livro "Construindo a leitura e a escrita - reflexões sobre uma prática alternativa em alfabetização", de autoria da Maria Alice S. Souza e Silva.

Iniciei este blog com o coração inquieto porque comecei a perceber o desinteresse e a estagnação da minha filha no processo da alfabetização. Então,  resolvi intervir no processo. Só que nunca fui alfabetizadora. Embora eu seja professora de geografia, as competências e habilidades para alfabetizar não são o objetivo da licenciatura em geografia. Mas, eu me viro diante do crescente desânimo da minha filha de 6 anos e um mês frente ao processo de aquisição da escrita e leitura. Foi quando decidi estudar sobre o assunto e criei uma micro-biblioteca com livros de Paulo Freire,  Emília Ferreiro, Ana Teberoski,  Magda Soares e por aí vai.

Somente à partir dessa fundamentação teórica toda foi que passei a entender como minha filha vinha aprendendo:
# como ela percebia os sons
# como ela entendia os conceitos de letra, palavra e silaba
# de que forma ela superava o desafio de escrever ou ler uma carta pra sua tia que mora em São Paulo
 
Questões que este livro me fez levantar e procurar ajudar a Cecília à superar alguns de seus desafios impostos pela escola, mas que ela não avançava porque para ela não fazia sentido as palavras iniciais trabalhadas pela escola: os encontros vocálicos "ai", "ei", ui" etc. Neste livro, que aborda a metodologia de Emília Ferreiro para subsidiar o processo de alfabetização,  conseguimos entender que para nós são palavras muito fáceis - os encontros vocálicos - mas, para as hipóteses da criança, para uma palavra ser lida ela precisa ter no mínimo três letras!! Diagnostiquei também, que minha filha não conseguia entender que a vogal introduzida na sílaba ,  modifica o som da consoante. Quando passou a ser exigida pela escola a formar palavras com as famílias silábicas aprendidas de forma memorizada, não fazia sentido algum pra ela e até a fazia ficar confusa e envergonhada com seus muitos "erros" ao tentar realizar o que era solicitado. Isso a fez estacionar no seu processo evolutivo.

Estas foram algumas das muitas questões que meu olhar foi se educando a buscar nas atividades desafiadoras-lúdicas que fui criando. E foi nesse contexto que foi construído o momento ímpar que aconteceu hj!

 Utilizei o alfabeto móvel para fazer um diagnóstico do nível de alfabetização em que a minha filha se encontra. Para isso, deixei as letras do alfabeto móvel dispostas conforme a figura acima e solicitei que ela explorasse "o brinquedo". Propositadamente não utilizei ainda as palavras letras porque minha hipótese é de que minha filha não sabe o que é letra,  som (fonema) e nem distinguir um do outro. Assim, ela foi logo embaralhando as imagens dos símbolos e identificando cada uma que ela pegava "esta é o dê", esta aqui é o efe" e por aí foi, uma por uma, embaralhadas, e acertou todas elas. Estava visivelmente satisfeita com seu próprio desempenho.




Em seguida, propus um jogo. Eu iria falar uma palavra (usei esse termo mesmo) e ela iria tentar montar a palavra com o alfabeto. Reforcei que ela não precisava se preocupar com o erro pois, o que eu observava durante as lições pra casa que ela trazia da escola é que haviam dado uma ênfase muito negativa para o erro, o que lhe tolhia a espontaneidade de procurar recursos interiores que a ajudassem a resolver os conflitos que encontrava no processo de sintetizar as sílabas  (etapa em que a escola se encontra agora e assim exige da turminha, agora que já ensinou todas as famílias silábicas). 

Solicitei então que tentasse formar a palavra "BALI" que é o apelido íntimo do pai aqui em casa. Ela usou as letras como na imagem abaixo, para representar a palavra solicitada.


Esse exemplo aí de cima se repetiu em mais 4 palavras que eu solicitei.  De acordo com Emília Ferreiro, citada no livro que informei no início deste texto,  a minha filha encontra-se no nível silábico de evolução da escrita, que se caracteriza pela correspondência entre a representação escrita das palavras e as suas propriedades sonoras. Foi a descoberta que ela fez hoje, de que a quantidade de letras com que ela ia escrever uma palavra pode ter correspondência com a quantidade de partes que se reconhece na emissão dos sons!! Ela utilizou cada letra para representar uma silaba ouvida, em todas as palavras que eu solicitei que escrevesse.

Pra mim foi um grande salto que ela deu na evolução da sua escrita pois, quando resolvi intervir no processo de alfabetização dela, minha filha estava estacionada no nível pré-silábico, onde eu não percebia nas suas representações da escrita a preocupação com as propriedades sonoras das palavras ouvidas.

Então,  fechei este dia com chave de ouro e muito feliz de, além de ver a sua evolução,  perceber nela a própria satisfação com seus acertos.

Estamos felizes!! Até a próxima postagem, onde vou descrever algumas as atividades que utilizei pra que ela pudesse atentar para o valor sonoro das sílabas.

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